Paradoxo(s) da arte contemporânea - FELIPE CAMA – Por Ana MagalhÃES E PRISCILA ARANTES

Essa Obra surgiu de uma visita de Felipe Cama à China. O artista havia se interessado pela atitude de milhões de turistas que se fotografavam em frente à entrada da Cidade Proibida. Antes mesmo da febre dos selfies, Cama esteve atento ao modo como as pessoas se relacionam com o mundo, como registram sua própria experiência e sua memória, e de que modo locais turísticos fazem parte dessa narrativa.

 
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As imagens são pinturas feitas a partir de fotografias, inicialmente tiradas pelo próprio artista (inclusive dele mesmo em frente aos portões da Cidade Proibida, com o retrato-monumento de Mao-Tsé Tung), mas que foram sendo completadas por retratos de pessoas que disponibilizaram suas imagens na internet. Ao escolher a pintura como meio de reprodução das imagens originalmente fotográficas, o artista discute não só o estatuto da imagem, como também da ideia de autoria. As pinturas foram encomendadas por Cama, através da internet, a artistas chineses especialistas em copiar qualquer imagem em pintura que se envie a eles. A China é hoje a maior economia do mundo, colocando seus produtos no mercado internacional de modo competitivo, tendo ao mesmo tempo se reerguido por via da imitação e da cópia de tecnologia estrangeira. Faz parte desse sistema o boom da arte contemporânea chinesa nos mercados do Ocidente. Em contraposição a essa circulação global da arte chinesa contemporânea, o país também é conhecido por cidades como Dafen (no Sul da China, perto de Shenzem), na qual os artistas locais vivem da cópia de grandes obras da pintura ocidental, que podem ser encomendadas por qualquer pessoa através da internet, enviadas por correio. Esses artistas, no entanto, não são vistos como seus pares que circulam nas grandes mostras e feiras internacionais de arte contemporânea, participando de uma economia secundária, cuja circulação de arte se dá por via da cópia.

Publicado originalmente no livro Paradoxo(s) da Arte Contemporânea, Diálogo entre os Acervos do MAC USP e do Paço das Artes - Org. Ana Magalhães e Priscila Arantes, editora EDUSP, 2018.